Fidel Castro foi, junto com Che Guevara, um dos líderes da Revolução Cubana, que derrubou o então ditador Fulgêncio Batista. A vitória, conquistada em 1959, prenunciava uma mudança radical na política, na economia e principalmente nas relações internacionais. Afinal de contas, os guerrilheiros que chegaram ao poder discordavam da forma como Fulgêncio governava o país. Pela proximidade com os EUA, Cuba era um paraíso para os estadunidenses. Cassinos e prostíbulos eram a grande fonte de renda do país, tudo construído para esses estrangeiros.
As mudanças prometidas vieram. Implantação do sistema socialista, aproximação com a URSS e fim das relações internacionais com Washington foram apenas algumas delas.
Cuba tornou-se importante geopoliticamente, já que era o único país reconhecidamente socialista na América Latina. Moscou passou a comprar seu açúcar, pagando valores acima do mercado para compensar a perda de arrecadação com o turismo na ilha. Dessa forma, tornou-se um inconveniente para os EUA, que tentou um ataque com refugiados cubanos na Baía dos Porcos, em 1961, para derrubar o regime de Fidel.
Depois da tentativa fracassada dos EUA, Cubanos e Soviéticos concordaram em colocar na ilha mísseis capazes de defendê-la de novos ataques. Quando Nikita Krushev, primeiro ministro russo, enviou os mísseis ficou clara a sua intenção: responder à colocação de mísseis nucleares estadunidenses na Turquia, mirando em grandes cidades soviéticas. Durante treze dias, a vinda dos cerca de quarenta mísseis nucleares russos provocou pânico e histeria nos dois países. Nunca o mundo esteve tão perto de uma guerra nuclear. Depois de um acordo, os navios com as bombas nucleares voltaram para a URSS. E as bombas dos EUA saíram da Turquia.
O sistema socialista cubano investiu pesadamente o dinheiro russo em escolas e faculdades, na saúde e nos esportes. Pode-se dizer que enquanto a URSS existiu, Cuba conseguiu sobreviver e até prosperar. Mas com o fim da URSS, Cuba ficou abandonada e sua situação apenas piorou. O agravamento da situação econômica obrigou Fidel a aceitar os dólares que vinham dos refugiados nos EUA como forma de movimentar a economia. E investiu novamente em turismo.
No fim das contas, Fidel, como todo socialista, jamais teve a intenção de levar seu país ao comunismo. Se prolongou no poder além do que devia, usou a força para repelir seus opositores, julgou e fuzilou muitos deles. Fez muitas das coisas que criticava no governo de Fulgêncio Batista.
Mas também enfrentou longas décadas de embargo econômico, imposto pelos EUA. Nos últimos quinze anos, esse embargo fez com que a população cubana sofresse como poucas no mundo. O país está dividido entre a Cuba para cubanos e Cuba para estrangeiros. O acesso à produtos básicos, como sabonetes, papel higiênico ou pães é restrito, há cotas para tudo. Apenas para
cubanos, é claro.
Cuba elegeu o irmão de Fidel, Raúl, para o seu lugar. Para entrar para a história, ele terá de fazer algo diferente do que fez até hoje seu irmão. Senão passará e será esquecido, como o insignificante irmão de Fidel. A esperança de melhora reside na discórdia entre eles.
Os EUA já disseram que não retirarão o embargo enquanto Cuba não for um país democrático, então as dificuldades continuarão. Nas aulas, por um bom tempo ainda me referirei à Cuba como o maior museu a céu aberto da história da humanidade. Espero sinceramente que a situação mude um pouco e que as pessoas parem de ser penalizadas pelas ações dos dois ditadores que se sucederam no poder.
Espero que se faça uma transição gradual, lenta e eficiente. E que a economia não "evolua" a ponto de levar para a ilha, de uma vez, todos os problemas dos países subdesenvolvidos como o Brasil. Analfabetismo, caos na saúde pública e abandono do social definitivamente não são as melhores lições para se aprender com o capitalismo que circula hoje no mundo.