E ignorante também! Hoje fui surpreendido por reportagens nos principais jornais de São Paulo com o Lula falando sobre a minha pessoa. Obviamente não foi uma citação nominal, pois ele está longe de me conhecer pessoalmente (políticos só buscam contato com o povo na época das eleições). Mas ele falou ontem (31/07) sobre as pessoas que criticam o principal cabo eleitoral dele e de Dilma Roussef, o programa Bolsa-Família. Segundo ele,
"Alguns dizem assim: o Bolsa Família é uma esmola, é assistencialismo, é demagogia e vai por aí afora. Tem gente tão imbecil, tão ignorante, que ainda fala 'o Bolsa Família é para deixar as pessoas preguiçosas porque quem recebe não quer mais trabalhar'". Eu entendo que ele esteja chateado, afinal de contas para esse tipo de pessoa as críticas até podem ser feitas, mas só para a oposição, nunca para o governo. Eu mesmo cansei de falar em sala de aula sobre o bolsa-esmola e dizer que é uma política assistencialista. E não sou tão ignorante quanto ele gostaria.
O bolsa-família é sim assitencialismo barato, usado como cabresto eleitoral no curral eleitoral nordestino, onde está a maioria dos cartões do programa. Ele é necessário e estratégico para a eleição da Dilma, o tapa-buraco providencial do Lula. E não estou dizendo que ele não seja importante para quem recebe, que fique bem claro, mas que ele deveria ser apenas um paliativo temporário e não uma moeda de troca eleitoral eterna, como é costume no Brasil.
Com o aumento dos valores anunciado hoje, a União vai gastar aproximadamente R$ 12 milhões com esse programa. Aí vão dizer: "tá reclamando de gastar dinheiro com os pobres..." e eu respondo: gastando dinheiro? Não estamos mesmo! No ano passado, só o governo federal arrecadou 701,403 bilhões de reais com impostos e contribuições*. Fazendo uma conta simples, podemos ver que o bolsa-família, orgulho do Lula, representa aproximadamente 0,017% desse valor. Façam a conta, é uma regra de três simples. Se é para ajudar, porque não ajudar de verdade? Dinheiro tem, não sabemos onde vai parar, pois não está onde devia (educação, saúde, etc). E o molusco ainda vem posar de santo.
Nossa anta de plantão também disse que
"Somente uma pessoa ignorante ou uma pessoa de má-fé ou uma pessoa que não conhece o povo brasileiro será capaz de dizer que uma pessoa que recebe o Bolsa Família vai ficar vagabundo e não quer mais trabalhar. É não conhecer a sociedade brasileira". O Lula conhece mesmo a sociedade brasileira, tanto que falou logo a seguir que já registrou "gestos extraordinários" de pessoas que devolveram o cartão depois de conseguir um emprego. Isso não faz parte do programa? Ah, é que pessoas honestas são algo extraordinário mesmo nesse país.
Ele é muito bom em falar dos gastos do governo com o lado social da coisa, e como isso o distancia e o diferencia de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Mas no governo dele, além da
corrupção e da distribuição de dinheiro e cargos públicos, a arrecadação de impostos só aumentou também. Isso significa dizer que a situação econômica do Brasil melhorou, a arrecadação aumentou e como recompensa pelos esforços da sociedade, a carga tributária aumentou também. Veja o gráfico** e compare os dois governos. Agora vejamos: eu me coloco na posição de criticar o programa, com embasamento teórico e experiências vivenciadas na realidade do cotiano; ele faz campanha eleitoral com o programa de distribuição de renda que o FHC inventou (e que o Lula só mudou o nome) e chama os críticos de ignorantes e imbecis.
Para quem começou no sindicalismo criticando os patrões, lutou por eleições diretas, foi candidato derrotado várias vezes à presidência do país até que ganhou, a trajetória parece ser importante. Ele antes dizia que Collor, Sarney e Maluf eram o que de mais podre existia na política. Hoje esses são seus principais aliados. Dizia que o seu partido era "dos trabalhadores" e que lutava contra a corrupção. Quando chegou ao poder, governou para os ricos e se mostrou o mais corrupto de todos, além de ser o mais incompetente em ocultar sua corrupção, seus dólares na cueca, os mensaleiros, os acordos escusos, os atos secretos e nem tão secretos em defesa do indefensável, como no caso Sarney. Disse que diminuiria os gastos do governo e eles aumentaram sem parar. Disse que faria as reformas necessárias para o país, mas nenhuma foi feita (política, do judiciário, tributária, entre outras). Para quem dizia que era diferente, que defenderia o povo, que lutaria contra a corrupção, me parece que caiu bem a carapuça de Ali Babá. A diferença é que aqui temos muito mais do que quarenta ladrões.
Enquanto isso, eu continuo trabalhando em três instituições de ensino diferentes para pagar as minhas contas, dividindo meus ganhos com o governo, o sócio macabro que todo brasileiro tem, que não faz nada mas rouba quase 40% do que eu ganho e não me devolve nenhum benefício em troca. Tento toda vez que entro em sala de aula preparar os alunos para que eles tenham uma postura mais digna e crítica perante os tantos ladrões que ocupam os principais cargos públicos brasileiros, pois foi a forma que eu encontrei de tentar ajudar nessa situação. E escrevo nesse blog para que as pessoas saibam a opinião de alguém que discorda das coisas como estão postas, mas com argumentos, tentando mostrar para todos o descalabro que é essa gestão, o quão podre é essa pessoa e esse partido. Mas como já diria Nelson Rodrigues: Nada é mais cansativo do que tentar mostrar o óbvio. E eu já estou ficando cansado.