Obama é muito mais inteligente que Bush, isso não se discute. Nessas medidas, fica clara a intenção dos norte-americanos de "implodir" o regime comunista da ilha. Até porque invasões, como da Baía dos Porcos não dão certo e não são mais necessárias no mundo atual. É por esse motivo que os EUA se incomodam tanto com certos países, como Cuba, Irã e Coréia do Norte: eles não são exatamente países capitalistas, portanto não compram os produtos estadunidenses, portanto não fazem parte dos "aliados".
Desde o fim da Guerra Fria, o que importa não é mais ideologia, mas sim o comércio em si. Nesse aspecto, o embargo a Cuba não faz mais sentido, uma vez que essas pessoas não se tornam consumidoras dos produtos do vizinho do norte. Ao invés de manter essa política pouco eficiente de restrições, Obama montou um esquema para tentar tirar poder do atual ditador cubano, Raúl Castro. Analisando as medidas, vemos coisas interessantes:
- Não existem mais restrições de viagens de parentes para Cuba. Todos sabemos que uma das formas de Cuba se manter é pelo turismo e as visitas de parentes, mesmo que disfarçadas, vão acabar levando mais dinheiro para os cubanos;
- Não existem mais restrições de remessas de dinheiro para cubanos, exceto para aqueles que fazem parte da administração do partido comunista. Uma das formas do governo cubano controlar a sua população era não permitir que ela tivesse recursos financeiros para comprar coisas que até existiam na ilha. Tecnicamente não era proibido comprar coisas como computadores e pagar por internet, só que era inviável para os cubanos fazer isso por simples falta de recursos. Isso não tende a acabar, mas a diminuir;
- Não existem mais restrições ao envio de presentes para as pessoas em Cuba, exceto o pessoal do partido. Não existe definição para "presente", então qualquer coisa pode ser enviada, desde que não seja ilegal;
-Amplia a gama de doações humanitárias possíveis, possibilitando que os cubanos tenham acesso a itens de higiene pessoal, por exemplo, coisas sempre restritas a eles;
-Empresas estadunidenses agora podem montar redes de fibra ótica entre os países, fazer roaming com a operadora local de telefonia celular e prestar serviços de rádio e tv por satélite, inclusive sendo esses serviços pagos por pessoas nos EUA. Obviamente, se Cuba quiser pode facilmente impedir esses serviços. Vai da liberdade que os cubanos conseguirem nesse caso.
Analisando as restrições duas coisas ficam claras: a primeira é que o embargo não acaba tão cedo, afinal depende mais de fatores políticos como liberdade aos prisioneiros políticos e de viagem ao exterior e democratização da ilha do que qualquer outra coisa. A segunda é que Cuba agora está em uma encruzilhada histórica. O ditador anterior sempre reclamou que os EUA não davam nenhum passo em direção ao fim do embargo. Esse passo foi dado. Agora Cuba também tem de dar um passo em direção ao fim do regime ditatorial dos Castro que já dura meio século. Nesse meio-tempo, Raúl Castro deu declarações de que pode vir a negociar com os EUA qualquer coisa. Mas infelizmente seu irmão ainda é muito influente e a primeira coisa que fez foi dizer que Cuba jamais estenderia as mãos pedindo esmolas. Talvez se tal cavalheiro não vivesse em seu palácio e enxergasse a realidade do seu povo, ele reconsiderasse a questão. Melhor "esmola" do que não ter o que comer. Mas é claro que o ex-imperador da ilha não sabe o que é isso.
Se tais medidas serão seguidas do fim do embargo eu não sei. Sei que não acredito nisso. Também não acredito que as maiores remessas de dinheiro para a ilha fortaleçam o regime ditatorial, especialmente se mais cubanos tiverem acesso à informação e conhecimento, o que não acontece hoje com as escolas doutrinárias cubanas. Acredito mesmo que esse seja o começo do fim do regime ditatorial que Cuba vive há dezenas de anos (Cuba já era uma ditadura antes dos Castro, com Fulgêncio Batista), só não sei quanto tempo demorará. Já escrevi outras vezes que espero que Cuba não se abra ao capitalismo como fez a Rússia, afinal a abertura chinesa é muito mais eficiente. Mas sei que quanto mais demorar esse processo, mais sofrerá o povo cubano. E pelo pouco que os conheço, sei que eles não merecem.