De uma forma geral, as regras do capitalismo são simples de entender mesmo que sejam questionáveis. A livre concorrência faz com que novas tecnologias sejam pesquisadas, surjam novas formas de produção, diminuam-se custos e assim aumente-se o lucro. Resumindo pode-se dizer que a concorrência entre as empresas de um mesmo ramo garantem ao consumidor final produtos com mais tecnologia incorporada a custos menores.
Mas essa nunca foi uma realidade no setor automobilístico brasileiro. As poucas empresas do setor que estão no Brasil determinam seus preços do jeito que querem, sem interferência do governo. Trabalhando com combinações de preços levaram à falência a única indústria automobilística genuinamente brasileira, a Gurgel. Ao fazer isso, aprenderam que o seu funcionamento como cartel poderia não apenas garantir a hegemonia no mercado consumidor contra outros concorrentes mas garantir taxas de lucros muito acima do aceitável, atendendo ao princípio básico do capitalismo: o lucro máximo.
A entrada das montadoras chinesas no Brasil, vendendo carros com muito mais tecnologia e por preços muito abaixo dos praticados no país não poderia mesmo passar despercebida. Pelo pensamento dos chineses, que tive oportunidade de conhecer, pude concluir que as chinesas como a JAC motors ou a Chery não entraram no jogo do cartel formado no Brasil e puderam por um tempo vender carros sem sofrer represálias. Mas agora os funcionários do cartel, que são os governantes desse país, já criaram uma regra para que as chinesas não levem vantagem sobre o cartel, vendendo carros mais baratos. O governo federal acaba de mudar as regras do IPI (imposto sobre produtos industrializados), aumentando a alíquota em até 30%. A desculpa é de que as montadoras devem ter pelo menos 65% de peças feitas no Brasil para ter desconto no IPI. Mas o recado é simples: ou entra no cartel ou sofre represálias do governo. Se for o caso, que o consumidor perca a alternativa de comprar carros mais baratos. Mas que se mantenham os cartéis que prejudicam a economia nacional, seu crescimento e seus consumidores. O consumidor que se dane. Continue pagando pelo menos o dobro por carros que são feitos aqui e vendidos em vários lugares do mundo. Como disse um alto funcionário de montadora no Brasil, para que vender mais barato se o consumidor paga preços abusivos? Respondo: por falta de opção e por falta de um governo que proteja seus cidadãos. Nada mais.