Um turbilhão de ideias!

Ações afirmativas. Ou negativas?

Em 18 de Janeiro desse ano, um juiz de Santa Catarina tomou uma decisão polêmica: suspendeu o programa de cotas para negros e oriundos de escolas públicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e orientou a instituição a conceder as vagas para os candidatos que atingissem a pontuação mínima de cada curso. Isso causou uma grande discussão pelo país, especialmente por parte de organizações que defendem tais cotas.
Mas é interessante notar as justificativas dadas pelo juiz Gustavo Dias de Barcellos, nas quais baseia a sua sentença: impossibilidade de definir precisamente uma etnia no Brasil; a inexistência de "raças humanas"; e a ocorrência de dano irreparável ou de difícil reparação aos estudantes que, mesmo tendo alcançado a nota não terão a sua vaga, destinada a um cotista. No que ele está errado? Talvez esse juiz tenha errado ao citar a constituição brasileira, que em seu Artigo 3º garante que no país "...não haverá preconceitos de origem, cor, idade e quaisquer formas de discriminação" ou o Artigo 7º, que diz que é proibida a diferença de salários, de exercícios de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil. É, usar a lei no Brasil para tentar fazer alguma coisa quase sempre não é algo bem visto.
A discussão durou até o dia 31 de Janeiro, data em que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, derrubou a liminar do juiz catarinense. Com tal decisão, está mantido o sistema de cotas da UFSC e as discussões sobre ações afirmativas e como elas influenciam e melhoram a democracia brasileira.
Nas minha contestações fica sempre a mesma afirmação: Não estamos discutindo o problema! Todas as alegações de parte à parte restringem a discussão à sistemas e ações afirmativas. Organizações como o Educafro alegam que "devemos continuar buscando o melhor para pobres e negros". No entanto, todos continuam fingindo que o problema só existe quando os alunos chegam na Universidade, o que não é verdade. Enquanto a sociedade discute cotas para universitários, os ensinos fundamental e médio atingem níveis assombrosamente baixos. Os alunos estão cada vez menos capacitados, tendo vindo do ensino público ou não. E desses, alguns dos que passarem nos vestibulares por méritos próprios não terão direito de estudar, tendo perdido a vaga para um cotista. O quão essa medida é "afirmativa" para esses alunos? Sejamos práticos: o problema existe? Sim! Mas será mesmo que a única alternativa que existe para fazer alguém ter direitos é fazer outro alguém perder direitos?
A verdade é que lutar por educação de verdade, aquela que resolveria os problemas do Brasil, demora, é cansativo, a sociedade não está interessada e o governo muito menos. Porque? Por que esse seria um projeto que levaria pelo menos 20 anos, consumiria grandes quantias de dinheiro público sem trazer benefícios elitoreiros e exigiria uma mobilização que a sociedade brasileira não tem, não sei ainda se por incapacidade ou preguiça. No Brasil, parece haver um acordo velado entre a maioria da população e os políticos: "não tirem o carnaval do calendário que a gente não reclama do resto." Estudar é um porre mesmo! Mobilização então? Dá muito trabalho. O fácil é o certo! Melhor ficar quietinho, comendo ração e vendo desfiles das escolas de samba e futebol na TV. Até já acusaram o futebol de ser o "ópio do povo." Mas os tempos mudaram. O ópio já não é mais necessário.

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1 comentários:

Unknown disse...

Caro professor Silvio, gostei muito do seu blog, estou fazendo um projeto pra seleção de mestrado em Direito e este é justamente é o meu tema, ações afirmativas, gostaria de manter contato pra tirar algumas dúvidas, pois estou encontrando mais dificuldade na elaboração da problemática do meu projeto, se vc puder entrar em contato comigo eu ficarei imensamente grata, o meu e-mail é naninha_1@hotmail.com .
obrigada

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"Quem não raciocina é fanático, quem não sabe raciocinar é um imbecil e quem não ousa raciocinar é um escravo"
W. Brumon

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Sou apenas um brasileiro, professor de Geografia, crítico da Política e das "politicalhas" que vejo todos os dias por aí. Sou um cara simpático com meus alunos e amigos, totalmente antipático com e que não acredita mais em política, que gosta muito de dar aula, principalmente pela liberdade de expressar minhas opiniões e discutí-las com os alunos. Gosto de viajar, gosto do bom e velho Rock'n'Roll. Gosto muito de Geografia e de estudar os "matos" desse país. Acho mesmo que nasci no país errado: prefiro campo a praia, vinho a cerveja, frio a calor, morenas a loiras, honestidade ao famoso "jeitinho brasileiro". Enfim isso tudo. Quem quiser saber mais pergunte para meus amigos e alunos.

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Olá a todos.


Estamos caminhando por um mundo globalizado que não enxerga diferenças mais do que econômicas, por isso esse é um dos focos dos atuais estudos geográficos. Como amante, seguidor e professor dessa velha matéria, me sinto na responsabilidade de passar as idéias e atualidades desse contexto para os meus alunos e amigos, como quaisquer outros seguidores que vierem.

A visão é de uma pessoa que passou por diversas dificuldades e ainda passa, vivendo na periferia e tentando, a partir dela, criar certa resistência ao processo de desmonte da educação como um todo que acontece hoje no nosso país. Portanto, continuem se sentindo em casa, e não se esqueçam de comentar e dar suas opiniões sobre cada postagem. Como sempre, respondo aos comentários o mais breve possível.



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