Com esse cartão, que deve ser usado apenas para despesas emergenciais (leia-se sem concorrência pública), o portador pode fazer compras em free-shops, loja de material para construção, de instrumentos musicais e esportivos, veterinárias, óticas, choperias e joalherias. Poderá também almoçar em restaurantes caros, comprar vinhos finos, pagar hotéis nas férias, alugar carros e, por último mas não menos importante, sacar dinheiro no caixa, sem se preocupar em justificar os gastos. E o que é mais importante, a conta é encaminhada para o governo, que paga tudo. E se alguém da oposição, digo, de fora do governo quiser realmente discutir, o governo põe panos quentes, pedindo ao "cumpanhero" ou "cumpanhera" investigado que se retire do cargo, como no caso de Matilde Ribeiro, ex-ministra (???) da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da igualdade Racial - SEPPIR (nunca vou entender isso: defender a igualdade entre ratos, lebres, lobos, girafas e humanos, esse governo tem cada uma...). Ou então podemos ter aqueles casos clássicos de "me enganei de cartão", "eu não sabia como usar o cartão" ou "me informaram errado". Ou eles são muito inocentes ou sabem que o povo é burro e acreditará neles. Alguns até devolvem o dinheiro. "Tudo bem", dirão, "é um bom passo". Mas fico pensando no que disse o meu irmão sobre um hipotético roubo a banco, em que os assaltantes, surpreendidos na saída pela polícia, dizem: "OK, acabou a brincadeira, vamos entrar e devolver todo o dinheiro roubado, então não foi cometido crime nenhum, certo?" Será que a lei é assim mesmo ou sou eu que estou cansado dessa palhaçada?
Para fingir de bonzinho e escapar de uma investigação mais séria (ou seja, fora do senado e congresso) o governo agora propôs uma CPI para investigar o uso dos cartões corporativos, desde que se investigue também o período do governo FHC. Isso é para depois poder dizer "tá vendo, não foi só a gente que fez cagada com cartão corporativo". Como se um só fazendo já não bastasse!
Enquanto isso, para evitar que repórteres xeretas fiquem bisbilhotando no Portal da Transparência e expondo os gastos com o dinheiro público, alguns ministros inventaram que a divulgação dos gastos da presidência coloca este e seus familiares em risco. Retiram-se então os dados da internet, forma-se uma "cortina de ferro" que tira do brasileiro o direito de saber o que se faz com seu dinheiro. Assim o Portal da Transparência deve ser rebatizado como Portal Nem Tão Transparente Assim. Afinal de contas, qualquer brasileiro com acesso à internet e um pouco de neurônios ativos poderia ter em mãos números reais, provas do porque a saúde, o transporte, a previdência e a educação no Brasil são relegados ao enfadonho e cômodo esquecimento. Mais uma vez, o governo faz o fácil ao invés de fazer o certo: demite, mente e omite. Tudo para que o dinheiro público continue jorrando (se não for com cartões será de outra forma qualquer, esses caras são criativos!), enquanto os brasileiros continuam a dormir suave e deliciosamente nos lençóis da ignorância.
Imagem: folha online - www.folha.com.br
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