Protestos com "face"!
Uma outra coisa que ficou muito clara nos protestos de junho pelo Brasil foi algo que os políticos e até mesmo a mídia pouco considerava: o poder da internet.
Muitos dos protestos foram organizados pela rede e se espalharam dessa forma, tanto a chamada para a mobilização quanto os resultados das mesmas. E uma das características dessa forma de difusão é que ela não passa pelos canais ditos "oficiais", ou seja, não dependem da grande mídia corporativa e corrupta, que seleciona o que é transmitido dependendo de seus próprios interesses.
Nunca no Brasil chamados pela internet tinham ganhado corpo nessas proporções, apesar de não serem obviamente o único meio de propagação dessas ideias. As universidades foram, como sempre, um dos grandes disseminadores delas e atuaram como organizadores desses eventos.
Esse é mais um dos indicativos de que a grande maioria da classe política está completamente desvinculada da realidade do povo. Não basta ter websites e contas em rede social para participar do mundo cibernético. É preciso ter mais cuidado com essas informações, como as organizações atuam e se mobilizam, assim como as empresas particulares já fazem com a opinião que os seus consumidores colocam sobre seus produtos e serviços na internet.
Creio que daqui para frente, mais do que o governo dos EUA, o governo brasileiro vai começar a prestar mais atenção nas informações que circulam na internet e mais do que isso usar essas informações para tentar dizimar essas organizações e movimentos. Mais uma luta para o governo, tentar acompanhar as novidades da tecnologia. Para um governo que gosta tanto de apegar ao passado vai ser uma luta difícil.
Protestos sem face!
O Brasil passou ultimamente por um período de protestos há muito tempo não vistos, pelo menos que eu me lembre. Uma mistura de indignação com o descaso público e o abuso do custo de vida, processo iniciado pela reivindicação da revogação do aumento do transporte público, isso falando aqui de São Paulo.
O povo nas ruas mostrou força e, mais do que isso, mostrou o quanto despreparada é a classe política para lidar com o povo quando ele abandona a figura típica do brasileiro, o "Homo bovinus", que fica ruminando os problemas e não faz nada para resolvê-los.
Os políticos ficaram absolutamente perdidos, sem saber o que fazer. E naquele primeiro momento, quando o povo ainda estava nas ruas, vários desses decrépitos políticos passaram a fazer o óbvio, defender e dar razão às pessoas. Isso ocorreu por motivo mais óbvio ainda: tinham a esperança de que, ao receber um pouco mais do que as migalhas, a esmola nossa de cada dia o povo voltasse a ruminar a vidinha de sempre, com seu futebol, suas novelas e seus "reality shows". Nada contra esses programas, mas só mesmo pessoas muito ingênuas (como o povo brasileiro*) para achar que eles não são manipulados para "conter o gado no seu curral".
Enquanto duraram os protestos com maior intensidade os políticos fingiram que estavam tentando propor mudanças, o que já sabemos que não se mantém. Basta ver as votações no senado a respeito de nepotismo e principalmente sobre a distribuição de verbas advindas do petróleo, que deveriam ser totalmente destinadas à educação e saúde. Esse valor foi reduzido em votação no senado para menos da metade.
Em suma, podemos tirar algumas lições desse período conturbado pelo qual passamos:
1 - O povo nas ruas coloca pavor na vida dos políticos, reduzindo-os ao que eles realmente são: nossos funcionários (esse é o maior medo deles);
2 - Protestar de vez em quando não resolve. Não vamos ter copa das confederações nem copa do mundo todo ano;
3 - Apesar de não defender o vandalismo, ele teve um papel importante para os políticos vislumbrarem um futuro sem controle, afinal se todos nas ruas se enfurecessem não haveria controle policial possível;
4 - Os políticos são uma espécie de mágicos ilusionistas: eles vão tentar se transformar em qualquer coisa que os faça ser reeleitos nas próximas eleições;
5 - O povo como um todo não está preparado para tomar o controle do país. Primeiro porque uma parte da população está tão cega que não conseguiu enxergar os benefícios a longo prazo das manifestações, só via os malefícios imediatos das manifestações. Segundo porque não acho que esconder o rosto não é a melhor maneira de exigir transparência. E por fim as manifestações perderam muito facilmente o foco, claramente manipuladas por gente mal intencionada. Não querer manifestações políticas em um movimento nitidamente político foi o maior exemplo disso.
Se você não concorda leia a reportagem: