Um turbilhão de ideias!

E a Geografia, hein?

Ao me encaminhar para o colégio na última terça-feira (06/11/07), recebi no caminho uma edição do Jornal Publi Metro, cuja manchete era "77% dos brasileiros não acham São Paulo no mapa". Fiquei muito triste, obviamente, pois sou professor de Geografia e apaixonado pela matéria.
Outros dados da pesquisa, realizada pelo Instituto Ipsos, revelam que metade dos entrevistados não consegue localizar o Brasil num mapa-mundi. A maioria não consegue localizar os estados do Pará, São Paulo ou Rio Grande do Sul. Nordestinos não sabem onde fica o Ceará (terra do Padre Cícero, lembram?). Com relação a outras localidades no mundo, a coisa ficou pior, o que eu achava impossível. A maioria dos entrevistados (82%) não consegue localizar os EUA, apesar de consumir diariamente toda a cultura globalizante desse país. Também não conseguem localizar a França, o Japão e, pasmem, a Argentina.
Como professor de Geografia, é possível ver de dois ângulos essa pesquisa. O primeiro é a decepção de ver o trabalho realizado todo dia não ter um resultado significativo. Outro é o do desafio, de fazer isso melhorar, de mudar esse resultado. Mesmo sabendo que para isso deve-se lutar contra os interesses de governos que dependem de um povo semi-analfabeto ou analfabeto mesmo para votar nas eleições e perpetuar o modelo corrupto-exploratório que aí está. Também é necessário lutar contra o desinteresse de um povo que se acostumou a não reclamar, não lutar, não exigir, não fazer por onde. É corrente o pensamento de que o ensino no Brasil não funciona corretamente, o que é verdade. Na escola pública, por que professores mal remunerados e sem estímulo não ensinam, enquanto alunos pouco motivados não tentam aprender. E na escola particular (salvo raras excessões), pais despreparados que acham que exigir aprovação porque pagam a mensalidade é o melhor que podem fazer por seus filhos, sob "pena" de tirarem os filhos das escolas. Assim os alunos também se sentem pouco motivados, não há a sensação do desafio do aprender. Sem o estímulo, sem o desafio, o que é aprender? O que é ensinar?
Não é a toa que chegamos nesse nível. É obra de um grande conjunto de fatores que faz com que tenhamos uma maioria esmagadora que não conhece Geografia nem qualquer outra matéria, limitando a capacidade do país de crescer e impedindo que ele saia da posição de fornecedor de mão-de-obra barata e desqualificada na Divisão Internacional do Trabalho.
Muitas vezes sou questionado por afirmações que faço em sala de aula e esta venho fazendo há anos: O Brasil tem o melhor sistema de ensino do mundo! "Como assim?", perguntam as pessoas. E eu explico: afinal o que é um sistema? Sistema é um conjunto de fatores interligados, que fazem algo, um "todo", funcionar organizadamente. Tem sempre um objetivo, um método de organização e resultados esperados.
Quando falo do Sistema Educacional Brasileiro (sic!), estou falando de algo pensado para que as pessoas passem pela escola e saiam com diplomas sabendo o mínimo possível, de preferência apenas sabendo assinar o nome. Números são importantes para mostrar na ONU (97% das crianças em idade escolar estão na escola, no Brasil), fazem com que a imagem do país seja respeitada no exterior, mas não refletem a realidade. Os métodos utilizados são vários, mas refletem duas práticas constantes: retirar parte do salário dos professores que reprovam alunos e extinguir a repetência, mesmo que o aluno não aprenda. Em São Paulo, este sistema recebe o nome de Progressão Continuada. Os resultados esperados? Uma população de semi-analfabetos, analfabetos funcionais e analfabetos completos*, que sem saber ler, escrever ou entender algo perpetua no poder políticos que vivem da exploração das riquezas do país, enriquecendo-se mais e mais.
Por isso é que digo que o sistema educacional brasileiro é o melhor do mundo. Tem objetivos claros, métodos bem definidos e alcança quase plenamente os seus intentos. Ele funciona! Os resultados dessa pesquisa são apenas um reflexo de um país que não valoriza a educação pela fato dela ser um bem coletivo. Bens coletivos normalmente tiram dinheiro do bolso e da cueca dos políticos. Além disso, a população acostumou-se com os "bolsas-esmola" e com as latas de leite que algumas prefeituras dão. Enquanto ir à escola tiver como objetivo receber dinheiro ou latas de leite, a educação pública continuará sendo improdutiva, como é hoje. O pior mesmo, de tudo que foi escrito aqui, é a falta de perspectiva de melhoria, uma vez que entramos nesse círculo vicioso de políticos que não investem na educação, pessoas que não gostam de estudar e escolas que formam incapacitados com diplomas. Se continuar desse jeito vamos ter de importar mão-de-obra para a Copa de 2014!

*Dados sobre analfabetismo na postagem "Educação? No Brasil?", de maio de 2007.

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2 comentários:

Felipe do Vale disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Felipe do Vale disse...

Professor... da uma olhada no que acabei de ver...
http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI2106611-EI306,00.html

O q vc acha disso?

*Otimos textos, como sempre

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"Quem não raciocina é fanático, quem não sabe raciocinar é um imbecil e quem não ousa raciocinar é um escravo"
W. Brumon

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Sou apenas um brasileiro, professor de Geografia, crítico da Política e das "politicalhas" que vejo todos os dias por aí. Sou um cara simpático com meus alunos e amigos, totalmente antipático com e que não acredita mais em política, que gosta muito de dar aula, principalmente pela liberdade de expressar minhas opiniões e discutí-las com os alunos. Gosto de viajar, gosto do bom e velho Rock'n'Roll. Gosto muito de Geografia e de estudar os "matos" desse país. Acho mesmo que nasci no país errado: prefiro campo a praia, vinho a cerveja, frio a calor, morenas a loiras, honestidade ao famoso "jeitinho brasileiro". Enfim isso tudo. Quem quiser saber mais pergunte para meus amigos e alunos.

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Estamos caminhando por um mundo globalizado que não enxerga diferenças mais do que econômicas, por isso esse é um dos focos dos atuais estudos geográficos. Como amante, seguidor e professor dessa velha matéria, me sinto na responsabilidade de passar as idéias e atualidades desse contexto para os meus alunos e amigos, como quaisquer outros seguidores que vierem.

A visão é de uma pessoa que passou por diversas dificuldades e ainda passa, vivendo na periferia e tentando, a partir dela, criar certa resistência ao processo de desmonte da educação como um todo que acontece hoje no nosso país. Portanto, continuem se sentindo em casa, e não se esqueçam de comentar e dar suas opiniões sobre cada postagem. Como sempre, respondo aos comentários o mais breve possível.



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