O que aconteceu no nordeste brasileiro não é nenhuma novidade, fenômeno parecido ocorreu na mesmo região há cerca de dez anos passados, em 2000. Na ocasião foram registradas 55 mortes mas os estragos materiais foram menores.
Para aqueles um pouco mais familiarizados com geografia não é necessário explicar que o clima tropical brasileiro tem uma característica peculiar: apresenta metade do ano com chuvas regulares e metade do ano secas regulares. Mas no litoral acorre uma pequena variação disso. As massas de ar que causam chuvas no litoral brasileiro são, principalmente, a Tropical Atlântica (Ta) e a Polar Atlântica (Pa). No inverno Pa está mais forte e consegue chegar no litoral do nordeste, empurrando para esse local a influência de Ta. Quando se encontram chove por seis meses, regularmente, seguindo a tendência pricipal dos climas tropicais. Quando Pa perde força, no verão, Ta a empurra novamente para o sul e sudeste, provocando chuvas nessa região. Portanto costuma-se dizer que chovem seis meses por ano no clima tropical, exceto no litoral, em que chove seis meses no litoral do nordeste no inverno e seis meses no litoral do sudeste, no verão.
A diferença é que nesse ano choveu muito mais do que o esperado e essas chuvas se concentraram em poucas áreas, chovendo por cinco dias seguidos, o que causou a tragédia. O que se segue às chuvas é uma enxurrada, que carrega tudo o que estiver no caminho. Nesse caso, casas, comércios, lavouras, pessoas. É óbvio que um evento desses não poderia deixar de ser uma tragédia anunciada, pois as pessoas construíram suas vidas em planícies de inundação dos rios. Não adianta reclamar da natureza, pois essas áreas não chamam planícies de inundação à toa. Todas as vezes que o leito não tiver suporte para o volume de água essas áreas serão inundadas. Então porque as pessoas moram nesse lugar?
Por que o governo deixa é a única resposta. Todas as prefeituras do Brasil usam do expediente de deixar as pessoas invadirem áreas de preservação para aumentar o número de moradores, regularizar as áreas e assim poder cobrar impostos, aumentando a arrecadação do município. Tática velha, bem manjada, mas ainda em uso. Depois políticos se aproveitam para prometer em campanhas eleitorais que se forem eleitos não permitirão que as pessoas sejam retiradas das áreas invadidas. Resultado: o povo que não conhece leis e não quer perder os investimentos já feitos elege esse tipo de político, que mora bem longe do rio.
Não é a primeira vez que posto aqui esse tipo de tática usada no jogo político para manter o povo no cabresto eleitoral.E conhecendo a casta de políticos brasileiros e os eleitores do Brasil com certeza não será a última. Depois da tragédia, o povo deu um bom exemplo e mandou milhares de toneladas de roupas e alimentos para as vítimas. Os governos nos diversos níveis de administração fizeram discursos e liberaram verbas. O que me incomoda não é isso, já que são atitudes louváveis ajudar as pessoas atingidas.
O que incomoda é usar mais dinheiro para consertar do que para prevenir; criticar as ocupações ao invés de proibí-las; contabilizar mortos ao invés de atingidos; prender pessoas que deveriam ajudar (bombeiros) por roubar donativos. É deprimente.
Até a última contagem, 57 pessoas haviam morrido e cerca de 16 mil haviam sido atendidas nos hospitais de campanha das forças armadas, que mais uma vez dão excelente exemplo de organização e atitude frente situações adversas.
Que fique a lição para a reconstrução. As pessoas precisam de moradias e a infraestrutura deve ser reconstruída. Espero que as autoridades entendam que apesar de ter havido uma desgraça é necessário pensar e agir racionalmente. Ocupar ou permitir ocupação dessas áreas é permitir que moradores corram riscos desnecessários, inclusive de morte. Ou será que só pensam que 57 eleitores a menos não farão falta?
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