Uma das grandes críticas que se faz ao sistema político brasileiro é o fato de que as administrações que se sucedem são de partidos diferentes e que tudo começa do zero, pois um partido não continua a obra do outro para não fazer propaganda para ele. Mudam-se nomes das obras e projetos, secretários e ministros para enganar o povo e dizer que aquilo é uma coisa nova, mesmo não sendo.
Pois bem, se o grande problema do Brasil é a sequência política para que medidas implementadas não sejam paradas na metade da execução, o que dizer da educação estadual em São Paulo? Desde que me formei, apenas governadores de um mesmo partido governaram o estado: Mario Covas (de 1995 a 2001, quando morreu); Geraldo Alckmin (2001 a 2006); e José Serra, de 2007 até abril de 2010, sendo substituído por seu vice, Alberto Goldman, também do PSDB, para que Serra concorra à presidência da República.
A desculpa da descontinuidade não existe em São Paulo. E se considerarmos que antes de Covas tivemos Fleury e Orestes Quércia (PMDB, hoje base de apoio ao PSDB em São Paulo) e Franco Montoro (PMDB, depois fundador do PSDB) teremos então uma sequência de pelo menos 27 anos com um mesmo tipo de pensamento administrativo no estado. E a educação não melhorou em nada.
Nas propagandas políticas desse ano veremos o candidato José Serra falar das mudanças na educação, da introdução de mais um professor na sala de aula do Ensino Fundamental I, do programa de recompensas das escolas e professores por desempenho, entre outras coisas. Não leciono no estado, não posso dizer que vivo esse processo de perto. Mas a grande maioria dos professores que conheço e não conheço criticam enormemente esses programas, especialmente a Progressão Continuada, em que o aluno é aprovado por presença na escola, não importando o nível de conhecimento adquirido e rendimento escolar, e as bonificações por aprovação, que fazem com que os alunos sejam aprovados mesmo sem conhecimento pois a sua reprovação faz com que professores e escolas percam dinheiro. Somados, esses dois programas erradicaram quase por completo as chances dos alunos aprenderem algo na escola. Por isso o nível escolar diminui e as escolas formam cada vez mais analfabetos funcionais. Se não fosse a determinação de muitos professores altamente capacitados que insistem em lecionar no estado as escola pública sequer abririam as portas.
Outra consequencia, essa menos falada, é que muitos dos alunos formados nesse sistema hoje são pais de alunos completamente despreparados para cobrar das autoridades escolares aquilo que nem eles mesmos tiveram na escola. Não sabem o que cobrar da escola, dos professores, dos deputados, do governador. Não estão preparados para as discussões políticas, portanto não estão aptos a duvidar do sistema.
Alguns desses ex-alunos conseguem ascensão social e conseguem pagar escolas particulares para dar aos filhos a educação formal que não tiveram. Isso até é louvável, mas uma parte desses pais se soma a outros, oriundos de escolas particulares, que também estão despreparados para as discussões políticas e escolares. Vêem tudo pela ótica econômica do capitalismo, onde o fiho é cliente, não aluno, e a escola é investimento econômico resgatável em um ano, ou seja, não importa quanto o filho aprendeu, mas se ele passou de ano. Como muitas escolas particulares aceitam esse jogo e vendem diplomas, o nível educacional das escolas particulares também vêm caindo.
Em suma, praticamente todo o sistema educacional de São Paulo está viciado em formar analfabetos funcionais. Poucas são as ilhas de excelência que resistem a esse mar de sujeira que está imposto aos alunos de escolas que não ensinam, onde alunos não aprendem e se tornam cidadãos (será que se tornam?) muito menos informados de seus direitos e com menores chances no mercado de trabalho por sua pouca qualificação. Basicamente esta é a plataforma eleitoral defendida por José Serra e o PSDB para a educação nas próximas eleições à presidência da República, em 2010.
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