Um turbilhão de ideias!

Do fundo do Baú!

Revirando as minhas coisa para fazer uma faxina em casa descobri um exemplar do jornal de bairro "Folha do Míriam", daqui de perto de casa. A primeira vez que publiquei um texto em algum lugar foi nesse jornal, falando sobre educaçao e o governo Lula recém eleito. Reli o texto e apesar da falta de experiência e do texto um pouco mais grosseiro do que costumo escrever hoje, reparei que estava tudo lá: a tentativa de escrever sobre algo sério me segurando para não dar um esculacho na política nacional, a crítica aos sistemas educacionais, a esperança de que algo mudaria. Eu só não sabia que mudaria para pior. Mas resolvi publicar o texto mesmo assim, do jeito que foi escrito. Inaugura-se assim a série "Do fundo do Baú!".

Brasil novo, educação velha?

O Brasil tem um novo presidente da república, Luis Inácio Lula da Silva, do partido dos trabalhadores, que nunca esteve no poder federal anteriormente e que em quase todo o seu discurso de campanha criticou os modelos estabelecidos e propôs mudanças na política nacional. Isso incluía desde grandes reformas nas áreas tributária, econômica e previdenciária, entre outras, até mudanças suaves em campos estratégicos, como o da educação.

Essa questão vem sendo tratada com bastante cuidado pelo atual ministro da educação, Cristovam Buarque. Isso porque ele conhece a situação delicada que vive a educação hoje no Brasil em todos os níveis, desde o ensino fundamental até o universitário. E sabe também que apesar do governo ter em sua origem o apoio popular, o MEC – Ministério da Educação e Cultura – não terá aumento significativo na sua receita anual, ou seja, não terá dinheiro extra para a implantação de novos projetos.

As metas do MEC são três: erradicar o analfabetismo, construir a escola ideal e enfrentar a questão da universidade. Para chegar a resultados expressivos, várias medidas serão adotadas e outras estão em fase de estudo. A implantação de um programa de ensino fundamental de nove anos de duração será realidade no ano de 2004 em algumas regiões do Brasil, como por exemplo, em Minas Gerais. A proposta é incluir os alunos de seis anos na pré-escola, melhorando seu aproveitamento futuro e reduzindo a diferença de oportunidades entre ricos e pobres, já que os ricos têm acesso à pré-escola. O mesmo raciocínio funciona para a proposta de aumento do ensino médio de três para quatro anos, que seria equivalente aos cursos pré-vestibular que os ricos têm acesso.

Outro projeto do MEC é o Escola Ideal, que consiste, basicamente, em colocar todas as crianças na escola, equipar e modernizar os prédios e incentivar os professores. Também está em discussão a implantação gradativa do período integral nas redes públicas, oferecendo atividades esportivas aos alunos.

Para as universidades, os planos incluem a criação do Sistema Universitário Brasileiro, que englobará todas as universidades, públicas e privadas, e que terá como objetivo fazer com que essas assumam compromissos públicos, gerando conhecimentos para a melhoria das condições de vida das pessoas. Aumentar o número de vagas e o acesso aos mais pobres também está sendo discutido.

Os problemas que o ministro enfrentará serão enormes: evasão escolar, déficit de professores no ensino médio, desvalorização social do professor e analfabetismo funcional, entre outros.

A evasão escolar é um grande problema. Segundo dados do MEC, 96% das crianças em idade escolar são matriculadas no ensino fundamental, mas somente uma média de 50% conclui a oitava série. Este fato está intimamente ligado à situação sócio-econômica do país. Apesar disso, o aumento do número de estudantes que chegam ao ensino médio é constante. Por essa razão, surge um déficit no número de professores na escola pública, já que os profissionais buscam os melhores salários pagos pela escola privada. Em projeção do MEC, mantendo-se em proporção de 40 alunos por professor, seria necessária a contratação de pelo menos 46 mil professores.

Estes têm de enfrentar problemas delicados, como a desvalorização do seu trabalho, a baixa estima que isso causa, a falta de estímulos e os baixos salários. Não existe maneira de melhorar o ensino público sem melhorar as condições de formação do professor e também suas condições salariais e de trabalho.

Todos esses fatores geram graves problemas, incluindo o analfabetismo funcional, no qual o aluno não sabe ler, escrever ou contar. E se sabe ler, não consegue entender o que está lendo.

Assim, temos o retrato de um sistema de educação sempre punitivo à população de baixa renda, que no ensino médio e fundamental tem acesso apenas às escolas públicas, de má qualidade e no ensino superior, onde as universidades públicas representam o ensino de qualidade, os ricos lhes tomam as cadeiras, restando apenas a possibilidade de estudar em universidades privadas, muito caras e, muitas vezes, de qualidade inferior. O Brasil, que já aprendeu a educar a sua elite, precisa aprender a educar seu povo.

Em verdade, enquanto for mantido o tipo de educação que está em prática no Brasil, o país jamais conseguirá ser desenvolvido, pois isso requer níveis maiores de qualidade na educação, e que ela seja para todos.

É verdade que o ministro Cristovam Buarque e sua equipe estão se esforçando. Só nos resta, agora, torcer para que eles consigam um resultado satisfatório na equação entre os projetos de melhoria no ensino e os recursos que terão em mãos. A população, carente de educação e cultura de qualidade, aguarda ansiosamente pelas mudanças. E que elas sejam para melhor.

Publicado originalmente em "Folha do Míriam", edição de Agosto de 2003.
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1 comentários:

Unknown disse...

Oi Sílvio!

Fui sua aluna ano passado, no Cursinho da FEA (turma de sábado). Aprendi uma série de coisas, abri meus horizontes descobri o que é uma Fuvest (sou filha de semi-analfabetos, sendo eu uma "quase analfabeta funcional"), prestei AUDIOVISUAL, mas não passei. Descobri também, que para fazer ECA-USP eu precisaria de "bagagem artística", prestei o vestibulinho da SP Escola de Tearo, fui aprovada no curso de Técnicas de Palco, larguei meu empreguinho de salário miserável, sobrevivo com o ensentivo financeiro que a escola fornece... O maior choque quer tive, foi perceber que quando é interessante para o governo, ou melhor, para o governante, as coisas acontecem... Lá na SP não existe carência de nada, temos verbas para tudo, os alunos (artistas-aprendizes) são educados com todas as possibilidades, temos infra-estrutura, materiais com alta tecnologia e temos aulas com profissionais prá lá de capacitados... às vezes sinto que estou sonhando. Se o ensino público seguisse essa dinâmica a situação da educação do país seria outra... A SP é um priojeto que foi abraçado pelo candidato a presidência José Serra. Vale ressaltar que eu e a grande maioria dos alunos não pretendemos votar no sr. fulano... Ter investido na formação de profissionais do campo da cultura não foi nenhum favor, trata-se apenas de obrigação... A escola é mantida com os impostos que pagamos, isso não faz do ex-governador nenhum herói e não é motivo para compra de votos.
Não posso deixar de citar "O Professor Sílvio também foi sonhador!", é incrível como um bom amadurecimento faz diferença...
Sinto saudades das horas investidas no prepara para o vestibular, dessa vez meus horários não permitiram nem os sábados, logo em breve pretendo voltar aos cursinhos, estudar bastante e encarar de novo a FUVEST, dessa vez por Artes Plásticas... também ando amadurecendo bastante, a USP ainda é uma das minhas metas.
Continue assim, crítico e revelador, fazendo pensar os aluninhos "cabeça-oca" como eu, continuarei acompanhado seu blog, que adoro ler, prosperidade em seu trabalho, não desista, uma maçã boa também é capaz de contaminar e transformar as maçãs podres que a rodeiam!

Pense!

"Quem não raciocina é fanático, quem não sabe raciocinar é um imbecil e quem não ousa raciocinar é um escravo"
W. Brumon

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Sou apenas um brasileiro, professor de Geografia, crítico da Política e das "politicalhas" que vejo todos os dias por aí. Sou um cara simpático com meus alunos e amigos, totalmente antipático com e que não acredita mais em política, que gosta muito de dar aula, principalmente pela liberdade de expressar minhas opiniões e discutí-las com os alunos. Gosto de viajar, gosto do bom e velho Rock'n'Roll. Gosto muito de Geografia e de estudar os "matos" desse país. Acho mesmo que nasci no país errado: prefiro campo a praia, vinho a cerveja, frio a calor, morenas a loiras, honestidade ao famoso "jeitinho brasileiro". Enfim isso tudo. Quem quiser saber mais pergunte para meus amigos e alunos.

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Olá a todos.


Estamos caminhando por um mundo globalizado que não enxerga diferenças mais do que econômicas, por isso esse é um dos focos dos atuais estudos geográficos. Como amante, seguidor e professor dessa velha matéria, me sinto na responsabilidade de passar as idéias e atualidades desse contexto para os meus alunos e amigos, como quaisquer outros seguidores que vierem.

A visão é de uma pessoa que passou por diversas dificuldades e ainda passa, vivendo na periferia e tentando, a partir dela, criar certa resistência ao processo de desmonte da educação como um todo que acontece hoje no nosso país. Portanto, continuem se sentindo em casa, e não se esqueçam de comentar e dar suas opiniões sobre cada postagem. Como sempre, respondo aos comentários o mais breve possível.



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