Cidades Invisíveis!
O texto abaixo é o último capítulo do livro Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino. Mostra, para mim, uma certa desesperança com os rumos do país em que vivo, em especial nessa época de eleições que se aproximam. Também demonstra, no final do escrito, o que penso da função do professor hoje em dia, que não deixa de ser responsável pelo resgate dos alunos do inferno que se tornou a educação no Brasil. Esse diálogo se dá entre o explorador Marco Pólo e o grande imperador dos Tártaros, Kublai Khan.
O atlas do grande Khan também contém os mapas de terras prometidas visitadas mas ainda não descobertas ou fundadas: a Nova Atlântida, Utopia, a Cidade do Sol, Oceana, Tamoé, Harmonia, New-Lanark, Icária.
Kublai perguntou para Marco:
- Você, que explora em profundidade e é capaz de interpretar esses símbolos, saberia me dizer em direção a qual desses futuros nos levam os ventos propícios?
- Por esses portos eu não saberia traçar a rota nos mapas nem fixar a data de atracação. Às vezes, basta-me uma partícula que se abre no meio de uma paisagem incongruente, um aflorar de luzes na neblina, o diálogo de dois passantes que se encontram no vaivém, para pensar que partindo dali construirei pedaço por pedaço a cidade perfeita, feita de fragmentos misturados com o resto, de instantes separados por intervalos, de sinais que alguém envia e não sabe quem capta. Se digo que a cidade para a qual tende a minha viagem é descontínua no espaço e no tempo, ora mais rala, ora mais densa, você não deve crer que pode parar de procurá-la. Pode ser que enquanto falamos ela esteja aflorando dispersa dentro dos confins do seu império; é possível encontrá-la, mas da maneira que eu disse.
O grande Khan já estava folheando em seu atlas os mapas das ameaçadoras cidades que surgem nos pesadelos e nas maldições: Enoch, Babilônia, Yahoo, Butua, Brave New World. Disse:
- É tudo inútil, se o último porto só pode ser a cidade infernal, que está lá no fundo e que nos suga num vórtice cada vez mais estreito.
E Pólo:
- O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo e abrir espaço.
2 comentários:
Boa tarde Professor. Parabéns pelo blog. Estou seguindo-o. Visite o meu, e se gostar, siga-o! Saudações.
Desesperança é a palavra do momento para aqueles que se preocupam com o país. A educação, sendo a ferramenta principal para modificação do status quo, está sucateada e estrategicamente moldada para manter os pobres alienados.
Os professores, obrigados a nivelar por baixo, sentem-se frustrados diante de tamanha impotência.
Falta de esperança para com o Brasil é apenas a ponta do iceberg. Estamos longe de um país melhor.
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