Além da óbvia tragédia, muito se pode discutir. Nenhum hospital chega ao ponto em que ocorrem tantas mortes sem um motivo, o que já está provado e documentado. Há mais de um ano o Sindicato dos Médicos denuncia a situação precária do estabelecimento, no qual faltavam até álcool e algodão, e nada foi feito. Como sempre costumo dizer, crises como essa seriam exemplares mas infelizmente não são. Me explico: apesar da tragédia, nada disso é utilizado para melhorar a qualidade do atendimento público, em lugar nenhum do país, então sabemos que podemos esperar outra tragédia, em outro lugar, que está em curso nesse momento mas ainda não se tornou pública.
Esses acontecimentos são decorrentes de décadas de desmandos e de pouca preocupação com as pessoas, pelo menos fora do período eleitoral. Então são processos que se tornam notórios da pior maneira e com quem tem menos culpa pagando o preço mais alto. Nesse caso, com a morte de um filho.
No entanto, a maior falta de respeito às famílias veio de uma declaração oficial da Secretária de Saúde, Laura Rosseti, que em entrevista afirmou que o número de mortes era normal, estava dentro do parâmetro aceitável pela Organização Mundial de Saúde. Como já diria o grande mestre Aziz Ab'Saber, o maior erro que se comete quando se fala de pessoas é transformar problemas em números, pois os números mascaram a realidade. E eu ainda acredito na Teoria da Relatividade: 253 mortes para a secretária de saúde é uma coisa; um filho morto para uma das famílias vítima da negligência e do descaso da administração pública é outra. Tudo é relativo. Talvez se um dos mortos fosse filho de alguém importante a história fosse diferente.
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