Nesses muitos anos lecionando Geografia, sempre questionei a privatização da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), usando-a como exemplo de má gestão e incompetência administrativa, venda abaixo do valor de mercado e de como as privatizações foram e são danosas ao patrimônio público brasileiro. Mas nesse momento em que se fala de reestatização, me pergunto: para que?
Durante muito tempo, a CVRD foi considerada um "elefante branco", só dava prejuízo aos cofres públicos. Com a privatização, duas coisas ficaram claras: quando se faz investimentos quase sem custos e com alta expectativa de lucro, a tendência é que a empresa se torne uma das grandes do mercado. A outra coisa é que, administrada por mãos competentes, a possibilidade de lucro é imensamente maior. Espero que os leitores se lembrem de que vivemos em um modelo econômico neoliberal, o que torna privatizações não só normais como necessárias. Nem por isso devemos deixar de questioná-las.
A Vale sempre deu prejuízo por ser administrada mal e porcamente pelos governos brasileiros que se sucederam, até que FHC e os tucanos (atuais defensores da moral e dos bons costumes) decidiram se livrar dela praticamente fazendo uma doação ao setor privado, que agradeceu e a colocou entre as cinco maiores mineradoras do mundo, principalmente depois da compra da canadense Inco. Agora o Partido dos Trabalhadores (sic), do presidente do país, quer a reestatização, alegando venda fraudulenta. Ora, isso não é novidade para ninguém. Pode-se dizer que eles estão razoavelmente atrasados na história, pelo menos dez anos. Não se pode dizer que a venda não foi questionada à época, mas porque só agora, depois de quase seis anos de mandato, os políticos do PT estão mexendo nesse vespeiro? Será porque eles não têm um candidato forte à presidência, que pode muito facilmente ir parar novamente em asas tucanas, tendo assim que encontrar elementos que desestabilizem qualquer futuro candidato do PSDB?
Observando o modo do PT fazer política, vejo apenas algumas opções para esse desejo de contrariar a história e regredir ao ponto de reestatizar uma empresa privada: CIÚMES. Se o Hugo e o Evo podem, porque eu não poderia? ELEIÇÕES. Para as próximas campanhas o PT vai precisar de muita munição para eleger representantes novamente. Afinal, parece que os escândalos de corrupção não abalaram apenas um membro do PT, o próprio Lula. CABIDE DE EMPREGOS. Como todo bom partido político brasileiro, o PT indica cargos públicos em suas empresas e autarquias cobrando uma porcentagem do salário como contribuição. Assim, estar no poder é indicar cargos, que geram dinheiro, que financiam campanhas milionárias, que elegem novamente certos políticos, etc. Pelo menos é esse o desejo do partidariado brasileiro.
Outras coisas lamentáveis: não ouvi sequer uma única palavra do ex-presidente FHC, justificando a privatização, assim como não ouvi ninguém querendo que os "culpados" sejam responsabilizados legalmente se a venda tiver sido comprovadamente fraudulenta. Mais uma vez, o que se vê é a velha máxima da política brasileira, onde os culpados não são punidos, apenas deixam-se cair no esquecimento. Até o próximo escândalo.
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