Primeiro temos de dividir o tema: que país queremos para os próximos vinte anos? Se temos alguma pretensão de ser um país minimamente desenvolvido, precisamos de energia elétrica. Se não, podemos continuar com esse sistema capenga, consertado com cuspe e chiclete e que atende mal e porcamente o país hoje. Se crescermos um pouco mais do que está previsto (mais ou menos 5%) ao ano, não teremos energia para atender a demanda. Que fiquem bem claras duas coisas: a culpa do sistema não funcionar é dos políticos que estão no poder agora e desde o final da era militar, que não investiram em desenvolvimento mais do que o necessário para fazer propaganda política; eu particularmente não acredito que o país vai crescer nem 5%, afinal não temos infraestrutura para crescer nem essa meta.
Não podemos dizer que usinas são descartáveis, mas um plano melhor desenvolvido, com usinas menores, trabalhando em linha, trariam a mesma quantidade de energia e teriam impactos ambientais bem menores. A partir do momento em que estudos mostram que as usinas hidrelétricas não são uma energia tão limpa assim, pelo menos nos dez primeiros anos de existência (liberação de gás metano pela decomposição de matéria orgânica em ambiente anaeróbico), e em que países europeus e ambientalistas começam a repensar o uso de energia termonuclear, construir mais uma usina enorme (seria a 2ª maior do país), com baixo potencial gerador para a média do país, é um erro grosseiro de estratégia e planejamento.
É bem verdade que o projeto foi revisado e o que pretende-se que saia do papel é algo com impacto muito menor do que o projeto original, de cerca de 30 anos atrás. Mesmo assim, essa usina vai alagar uma área imensa, que representa a perda irreversível de um patrimônio natural de valor inestimável. Mais importante do que isso até é o caso da perda de patrimônio cultural da população ribeirinha e dos índios que moram nas áreas afetadas pela formação do lago.
Pelo menos por enquanto, a discussão ficou no menos importante: quem vai administrar a usina? Um consórcio, o governo federal ou ambos? Ninguém sabe. O que se sabe é que a usina vai sair do papel, afinal atende os interesses dos grandes industriais do ramo da construção civil que financiaram as campanhas vitoriosas do atual presidente da república (patrocinaram também os perdedores, para o caso de eles sairem vencedores. Em todos os casos só que perde é o país).
Sabemos também que construir usinas menores e com menos impacto seria mais inteligente e exatamente por isso não será feito. Se fossem feitas, eu seria obrigado a admitir a existência de pessoas inteligentes na política do país. E por fim sabemos que as pessoas afetadas pouco importam no processo, afinal serão removidas e aquelas que não forem virarão mão-de-obra barata para algum empreendimento do futuro lago. Nem vou comentar sobre preocupações ambientais, já que elas não existem nem aqui nem na China.
Mais uma vez o governo usou da tática de desviar a atenção da discussão para o que menos importa. Não me importaria se não tivesse funcionado. Fica o lembrete: é ano de eleições. Se o povo é tão facilmente manipulável em um assunto que afeta apenas uma parte do país, o que se dirá da campanha presidencial? Eu digo, bem alto: que venha a inundação.
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