Venezuela
Na democracia venezuelana tudo funciona como na Bíblia: "tudo posso naquele que me fortalece", ou seja, o todo-poderoso Hugo Chávez. Quem contradiz o que o deus bolivariano diz é sumariamente condenado sem julgamento. Ele acaba de ordenar o fechamento de 34 rádios que fazem oposição à ele e seu governo e disse que pretende fechar mais 200. A rede de tv Globovisión, também opositora, acaba de ter sua sede invadida por partidários de Chávez e sob o comando de uma das mais influentes deputadas de seu governo. Em um país que se orgulha de dizer que é democrático, vendo essas atuações, posso dizer que não entendo mais o que é democracia.
Além disso, o governo de Caracas está esperneando por causa da cessão de bases colombianas aos EUA, o que seria perfeitamente aceitável se ele próprio não tivesse cedido bases e feito acordo com os Russos para manobras militares em seu território. Quer dizer que se for imperialista, não pode. Mas se for a mesma coisa com a camiseta do Che Guevara pode?
Bolívia
O presidente boliviano está um pouco mais recolhido nesses últimos meses, aparecendo pouco no noticiário internacional. Apenas reclamou publicamente da repercussão negativa que se deu ao fato de que armas compradas pelo governo venezuelano foram parar nas mãos de "guerrilheiros" das FARC, atualmente sequestradores em larga escala e controladores do narcotráfico na América Latina. Disse que o vídeo em que o traficante falava isso era mais uma "montagem para desprestigiar um presidente revolucionário" e que é "uma campanha suja que vem do império". Bom, nessas frases ele disse tudo: ou ele é um grande fã da série de filmes Star Wars ou demonstra mais uma vez seu pensamento avançadíssimo para o século XVIII.
Equador
Falando em pensadores atrasados para a vida, o presidente do Equador também se revoltou com o fato de terem falado sobre o vídeo citado acima, em que um traficante diz que as FARC patrocinaram a sua campanha eleitoral. Patrocinar com dinheiro do narcotráfico para "cercar" a Colômbia com governos ditatoriais bolivarianos pode, o que não pode é divulgar essa informação. Basta dar uma olhada no mapa e ver a situação atual da Colômbia, cercada por governos imprestáveis por todos os lados, com exceção do Peru, seu principal aliado nessas questões de política externa atualmente. Dá para entender porque a Colômbia está cedendo bases militares em seu território para os EUA.
Paraguai
O presidente paraguaio, Fernando Lugo, é um dos que está mais contente. No mês de julho conseguiu cumprir uma de suas principais promessas de campanha, ou seja, arrancar mais dinheiro do Brasil pela energia elétrica de Itaipu. O governo brasileiro comprava cerca de R$ 120 milhões em energia do Paraguai, valor esse que será triplicado pelo novo acordo. De acordo com o governo brasileiro, o valor não será repassado aos consumidores do nosso país. Aí fica a pergunta: o dinheiro que vai pagar isso não vai ser subsidiado pelo governo? Como a resposta é sim, o palácio do planalto só arranjou um jeito de todos os contribuintes brasileiros pagarem pela estabilidade política do seu vizinho, o que era necessário depois que descobriram que o presidente além de ser bispo também era papai, atividades essas, digamos, incompatíveis se realizadas ao mesmo tempo.
Colômbia
Já o pessoal da Colômbia tem de ter muita paciência. O seu presidente, Álvaro Uribe, parece ter sido picado pelo mesmo mosquito do caudilhismo, pois já está se articulando para tentar mudar a constituição e se reeleger. O detalhe é que ele já está no poder há dois mandatos, o que o aproxima de seu arquirrival na política sul americana, o Huguinho. No mais, só diferenças. E ingerências. Não digo que me conforta a situação dele querer ceder bases militares para os EUA, mas me pergunto o motivo de tanto alarde. Não vi nenhum país fazendo alarde quando o caudilho venezuelano cedeu bases em seu território para a Rússia. Vale lembrar que Venezuela e Colômbia fazem fronteira entre si e com o Brasil. Qual o motivo de nossa diplomacia internacional não ter falado nada na época e agora fica com chiliques? Não dá para entender, a não ser que se use outro ditado popular: "dois pesos, duas medidas".
Brasil
Ah, o Brasil! Nosso querido presidente, aí ao lado em participação especial no South Park, gosta mesmo é de defender seus colegas bolivarianos, às custas do nosso dinheiro. Já tinha aceitado pagar mais caro pelo gás da Bolívia, sempre pagou mais caro pelo petróleo venezuelano do que os EUA e agora vai pagar mais caro pela energia de Itaipu. Só falta agora o Evo exigir que os traficantes brasileiros paguem mais caro pelas drogas que vêm de lá também.
Enquanto ele cuida dos problemas dos outros, aqui no Brasil nós ficamos vendo o senado federal virar motivo de piada (70% do conselho de ética do senado tem processos por falta de ética) e o judiciário tentando chegar no mesmo nível, colocando magistrados para realizar julgamentos de seus amigos íntimos, o que só poderia dar em merda mesmo. Em um desses julgamentos, o jornal "O Estado de São Paulo" ficou proibido antecipadamente de divulgar informações sobre uma operação da Polícia Federal que investiga a família Sarney. Traduzindo, voltamos à época da censura, igualzinho na Ditadura Militar da década de 1960. Tudo para esconder as cagadas da família que é dona do Maranhão, da qual o patriarca é dono do senado. E tudo isso com a conivência e a benção do nosso presidente, que pelo menos é coerente no discurso, defendendo oligarquias dentro e fora do país.
Trocando em miúdos, ao analisar a situação política da América Latina, pode-se ver que a democracia que havia sido conquistada está indo descarga abaixo por causa de dispositivos que ela mesma permite, como os plebiscitos, usados de maneira leviana. Muitos países já caíram nesse truque, entrando para a Aliança Bolivariana para a América Latina (ALBA) e discursando pelo "socialismo do século 21". Pelo visto, essa região do planeta está realmente iniciando um movmento histórico: o de retorno às origens de colônia de exploração e ditaduras. Uma pena.
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