A revolta provocada no Irã está muito ligada à quantidade de pessoas que votaram nessas eleições, mais de 85% do total de eleitores. Todas as avaliações previam a derrota do atual presidente, Mahmoud Ahmadinejad e foi muito estranho que ele tenha vencido em todas as unidades eleitorais, inclusive na cidade natal de seu principal adversário, Mir Hossein Mousavi. As pessoas se sentiram enganadas, é óbvio, por acreditar em um sistema eleitoral que demonstrou tamanha manipulação. Como consequência, uma onda de revoltas assolou o país, com manifestações gigantescas contrárias ao governo em que as pessoas reclamam do resultado das eleções.
O problema é que em muitos países os líderes estão cada vez mais chegados no poder, seja por ele próprio, pelo dinheiro que manipulam ou pelo status que os cargos lhes dão. Infelizmente, voltou a ser prática comum o desrespeito à democracia, como vemos em vários países da América Latina, por exemplo, em que atitudes antidemocráticas são disfarçadas por plebiscitos e consultas populares. Tudo bem que o Irã não é exatamente uma democracia, afinal o líder supremo, acima do presidente, é um cargo religioso e vitalício. Mas deve ser interessante manter o radical Ahmadinejad no poder, pois a reação de Ali Khamenei foi ordenar o fim dos tumultos e protestos, inclusive repreendendo violentamente as manifestações populares. Também tentou, aí sem muito êxito, impedir que as imagens dos protestos e da violência da polícia fossem mostrados para todo o mundo. Mas a internet se encarregou de impedir que os acontecimentos ficassem fechados naquele país e ganharam o mundo.
O que se vê são eleitores revoltados com o resultado manipulado das eleições, reagindo com veemência ao seu resultado e sendo por isso combatidos pelo governo. Os governistas, que exultaram o imenso comparecimento dos eleitores às urnas não imaginaram que isso viria a ser um problema tão grande. Afinal, quando um povo tem um pouco de senso crítico não fica quieto assistindo às palhaçadas que seus governantes fazem com seus votos, seu dinheiro, sua vida. Fica a lição, que talvez fosse aprendida em outros países se os programas de ensino público funcionassem: o povo é que manda no governo, não o contrário. Se Ahmadinejad ficar no governo, não será lembrado como o presidente eleito e reeleito do Irã e sim como mais um golpista que conseguiu se dar bem e, manipulando resultados, deu um "golpe de Estado", permanecendo no poder mesmo sem ter sido eleito. Ilegal, ilegítimo e antiético são as únicas descrições possíveis para o que está acontecendo agora no Irã. Veremos se farão aquilo que prometeram e executam os manifestantes, o que seria um massacre.
3 comentários:
Olá Professor!!
Primeiro quero dizer que seu Blog é muito bom, ajuda muito quem entende pouco sobre política e assuntos do gênero e não dispõe de tempo suficiente.
Bom, agradecimentos a parte, vamos ao "ponto-questão".
Aqui o senhor diz que o Ahmadinejad deu um "golpe de estado" para continuar no poder, manipulando os votos muito claramente, certo!? Então seria exatamente assim uma maneira de sempre permanecer no poder, ou há outros meios desses líderes continuarem no poder com o golpe de estado!?
RESUMINDO: HÁ OUTRAS MANEIRAS DE DAR UM GOLPE DE ESTADO, OU É EXATAMENTE ASSIM COMO AHMADINEJAD FEZ?!
Façamos uma comparação:
O Brasil é a economia mais estável do mundo pela ausência de revolta, vontade, ou mesmo inteligência por parte de sua população, que observa (ou finge que não viu) o governo e segue sua vidinha.
Desculpem-me se estou sendo pessimista demais, mas gente matando cachorro a grito para ficar no poder sempre existiu e existirá por um bom tempo neste mundo.
Se o Brasil tivesse uma população como a do Irã esta nossa estabilidade econômica poderia converter-se em um crescimento (não só econômico mas também cultural) e vir a ser a chave para este país emergente tornar-se uma potência de fato.
O que mais me chama a atenção é a atitude dos eleitores iranianos, nem tanto da corrupção...
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