Os sindicatos que defendem esses trabalhadores entraram com ações na justiça para tentar reverter a decisão da empresa, no que teve apoio de parcela significativa da população e de outros órgãos representativos de trabalhadores, como a Conlutas. Até aí, em um suposto Estado democrático, nenhum problema. A justiça do trabalho julgaria o caso e os recursos que coubessem, até chegar à justiça no nível federal, que daria uma decisão definitiva. Os trabalhadores continuariam demitidos e, em caso de vitória na justiça, teriam de ser readmitidos. Mas não foi isso que aconteceu, especialmente por causa de um ex-sindicalista que hoje é presidente da república.
As declarações dessa pessoa acabaram servindo como atiçador do braseiro que já era a situação. Os sindicatos pediram intervenção federal no caso, para reverter as demissões alegando que a empresa recebe grandes financiamentos do BNDES, que é do governo. Esquecem-se esses pobres despreparados que o BNDES financia de tudo um pouco, principalmente as grandes empresas como a Embraer que geram enorme renda para o país. E obtém lucros muito grandes, também para o país. E temos de lembrar também que esses financiamentos são perfeitamente legais, senão a Embraer teria sido condenada no processo movido pela sua maior concorrente, a Canadense Bombardier, na Organização Mundial do Comércio (OMC), alegando subsídios federais.
Obviamente por intervenção federal, o ministério público entrou com ação contra as demissões, impedindo que fossem homologadas. Rodadas de negociação já aconteceram, propostas e contrapopostas foram feitas e não se chegou a nenhum acordo. A Embraer não abre mão das demissões, o que podemos definir como intransigência. Mas a mesma intransigência se aplica aos sindicatos, que não abrem mão de que todos os funcionários sejam readmitidos.
Se a crise global afeta a Embraer ou não, não posso afirmar. Sei que seria estranho se não afetasse, afinal é a maior fabricante mundial de aviões de pequeno e médio porte. Existem empresas que se aproveitaram do momento de crise para demitir funcionários? Não tenho dúvida nenhuma a respeito disso. A Embraer está nesse rol? Não podemos provar.
O que sei também é que empresas como a Embraer trabalham com mercados futuros e crises como a que vivemos produzem reflexo a longo prazo também. Então não adianta ficar somente analisando os lucros do ano passado da empresa, é necessário analisar o que vai acontecer daqui para frente. Se analisarmos os dados fonecidos pela própria empresa, veremos que de 2007 para 2008 o número de aeronaves entregues aumentou (de 169 para 204 no total) e que mesmo assim o lucro líquido da empresa no mesmo período caiu enormemente, de mais de R$ 657 milhões para menos de R$ 200 milhões.
Aí vão me perguntar: 200 milhões não é muito lucro? É claro que sim! Não nos esqueçamos que esse é o objetivo de toda empresa capitalista. Não dá para manter o emprego dos funcionários? É até possivel que sim, mas enquanto durarem as discussões maniqueístas, nada acontecerá. A empresa não arreda pé da sua decisão, os sindicatos também não. Na verdade não há negociações e sim tentativas de empurrar goela abaixo dos outros a sua própria visão dos fatos.
E enquanto os donos da Embraer discutem o corte de vagas fumando bons charutos e bebendo uísque caro, alegando a necessidade disso, os sindicatos discutem a perda de arrecadação que o corte de 4200 funcionários provocará no próprio bolso. Com o trabalhador mesmo ninguém está preocupado. Prova disso é que a empresa afirmou que não pagará os seus salários, afinal não trabalham mais para ela, mantém vínculo apenas porque a justiça assim decidiu. E os sindicatos recusam qualquer ajuda que a empresa propõe, como pagar por mais um ano a assistência médica e pagar uma ajuda de custo para os funcionários demitidos.
No meio do turbilhão estão os trabalhadores, demitidos, sem salário e que já receberam as rescisões contratuais (os sindicatos acham que todos são trouxas e afirmaram que esse depósito é referente a antecipação de salários...me poupe!). Por causa da grande novela que isso virou, não podem receber o FGTS e nem solicitar o seguro desemprego. Para aqueles que defendem os trabalhadores nesse caso só posso dizer uma coisa: BOA, PESSOAL. Mas o que esperar de uma negociação feita por pessoas acostumadas com negociatas? Dá vontade de perguntar quanto estão levando nessa, ou que as reuniões sejam transmitidas pela internet, por exemplo. Aí o trabalhador veria quem realmente está errado nessa história, assim como quem está tentando levar vantagem em cima da sua situção desesperada.
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