Mas vim aqui falar dos desfiles cívico-militares, todos muito comentados, em que militares de todas as fardas desfilam em praças e avenidas principais do país. Então, para não deixar o dia passar em branco, resolvi falar de um grande herói militar brasileiro.
João Cândido foi o primeiro negro brasileiro a se tornar (não oficialmente, é claro), um Almirante da Marinha de Guerra do Brasil. Chegou à Marinha por ter um talento natural para movimentações bélicas e após ter feito o curso assumiu o primeiro posto em navio de guerra. Ao chegar ao mar João Cândido pode notar que nem tudo que se falava em terra acontecia na realidade do mar. Apesar de abolida a escravidão, no mar os marujos, maioria de negros, continuava a sofrer castigos físicos como na época da escravidão, especialmente com chibatadas.
Cansados dessa vida de castigos e inspirados pela tomada do encouraçado Potemkin pelos marinheiros russos, João Cândido organizou uma rebelião para terminar com os maus tratos na marinha brasileira. Ao retornar de uma missão oficial na Inglaterra, onde foram buscar o navio de guerra mais poderoso da época, o encouraçado Minas Gerais, a Revolta da Chibata foi deflagrada. Os marujos tomaram os quatro navios de guerra mais poderosos da Marinha brasileira e por alguns dias ameaçaram bombardear a capital federal, o Rio de Janeiro. Exigências? Fim das chibatadas, aumento do soldo e melhores condições de alimentação nos navios.
O governo brasileiro cedeu, pôs fim aos castigos físicos e deu anistia para os revoltosos. Liderados pelo "Almirante Negro", os navios Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Deodoro entraram na Guanabara e foram devolvidos ao controle da Marinha Brasileira. Descumprindo o prometido, o governo brasileiro mandou prender os dezoito principais líderes da revolta, que foram trancados a pão e água em uma cela praticamente sem luz e com pouca ventilação, onde eram jogadas diariamente pás de cal como forma de tortura. Presos por dezoito meses, apenas dois sobreviveram, entre eles João Cândido. Outros revoltosos, mais de 100 soldados, foram mandados para campos de trabalho forçado na Amazônia, mas nenhum deles chegou vivo lá. Todos foram mortos deliberadamente no caminho do navio Satélite.
João Cândido foi então perseguido pela marinha, não conseguindo nem trabalho para sustentar a família. Preso entre cadeias e hospícios, morreu aos 89 anos, em 1969. Apenas em 2007 seu nome foi escrito no Livro dos Heróis da Pátria e em 2008 lhe foi concedida a anistia post-mortem.
Reconhecimento não creio que ocorra, pois a marinha ainda têm vergonha do que fez a esse herói nacional, que mudou a forma como os marujos eram tratados e deixou um legado de inteligência, companheirismo e respeito por parte daqueles que vestem as fardas das forças armadas do país. Um bom feriado e o respeito a todos aqueles que usam e usaram suas fardas para lutar pelo povo sempre injustiçado do Brasil.
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