Educação para lamentar!
Uma pausa na política propriamente dita para falar especificamente de educação, tema tão recorrente por aqui e nas minhas aulas das escolas e do cursinho e nas campanhas eleitorais.
Não é nenhuma novidade que a educação do Brasil é lastimável. Em todos os estados, responsáveis pela maior parte do sistema educacional do país, vários são os estratagemas para fazer com que ela não funcione. O mais horripilante deles é a tal Progressão Continuada, aplicada e defendida pelo governo paulista como se fosse a oitava maravilha do mundo moderno, mas que na prática faz com que tenhamos alunos absolutamente analfabetos e ignorantes no final do curso, lembrando que a maior parte dos ingressantes no ensino fundamental não conclui o ensino médio. Somos então um país que forma poucas pessoas em relação ao total e que não ensina àqueles que concluem o ensino médio. Belo caminho, não?
Mas nada disso é novidade também, todos sabemos disso. Só o pessoal das campanhas presidenciais não sabia, afinal eles devem pegar dados da Suíça ou do Canadá para fazer propaganda sobre educação. O país retratado pelos comparsas do Lula não era definitivamente o Brasil, assim como a educação paulista não é a maravilha que os aloprados do PSDB tentaram mostrar para o resto do país.
Mas colocar isso em dados é interessante, apesar de sabermos que quando lidamos com gente números são secundários. Não nos esqueçamos que aqueles números em tabelas e planilhas são gente, com nomes próprios, família e necessidades reais, não apenas números. A FIESP acaba de mostrar os resultados de uma pesquisa realizada com base em dados oficiais dos países da América Latina e da ONU, mostrando quanto se gasta com educação e o quão efetivo isso se torna. O Brasil gasta com educação, efetivamente, mais do que a média da América Latina (4,3% contra 4%, respectivamente). No entanto, o gasto médio por aluno é mais baixo, de US$ 978,00 contra US$ 1050,00.
Mas o problema em si não é só esse: com esse gasto, o Brasil consegue escolarizar o aluno por 6,1 anos em média, enquanto a média da América Latina é de 8,3 anos. A taxa de analfabetismo no Brasil também é maior do que a média (11,3% contra 8%) e os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA, sigla em Inglês) são menores do que a média da América Latina (384 contra 407), nos colocando na posição 52 em uma lista de 57 países participantes. E apesar de existir a progressão continuada em alguns lugares do Brasil, a taxa de repetência ainda é de 21,4% contra a média de 5,8% na América Latina.
Eu sei que são muitos números e informações a serem absorvidas, mas fica claro o seguinte: a educação no Brasil é mais cara e ineficiente do que a média da América Latina, onde estão muitos dos piores índices econômicos e sociais do planeta. Há progressos? Sim. A porcentagem da população com 11 anos de estudo ou mais aumentou de cerca de 25% para 33% entre 2004 e 2009 e no mesmo período a quantidade de trabalhadores com o ensino médio aumentou de 33% para 44%. Mas como eu já disse antes, quantidade no Brasil é bem diferente de qualidade.
Como consequência disso, temos o que se classifica como falta de material humano qualificado para trabalhos que necessitam desse tipo de trabalhador. Essa falta faz com que o desenvolvimento do país possa ser retardado ou até estagnado, uma vez que já está comprovado que a qualificação da mão de obra aumenta a produtividade, a renda e o poder de compra do trabalhador e, como consequência, as riquezas do país.
Mas pelo que parece apenas eu e uma parcela pequena da população estão preocupadas com isso. Afinal de contas, ganhou a eleição para a presidência a candidata da situação, que detém o controle do principal cabresto eleitoral que existe hoje, o Bolsa Família. E uma parte dos que recebem o Bolsa Família não estão muito a fim de sair dessa situação confortável de ficar em casa fazendo filhos, sem trabalhar e recebendo por isso.
E se você, eleitor, ainda acreditar que algum dos candidatos a qualquer cargo público estaria disposto a mudar essa situação, sinto muito pela sua ingenuidade. A rede privada de ensino é muito grande e rica o suficiente para pagar para que a situação do ensino público não mude, fique ruim como está. Como se faz isso? Patrocinando a campanha de todos os candidatos, que ficam assim com o devido rabo preso. Por isso, independente do nome do eleito, não vejo futuro para a educação brasileira. Não enquanto a política continuar decidindo quem pode ser educado ou não, para que se prestará essa educação e, mais importante, quem controlará o povo e os eleitores com base nesse sistema. O resultado? Continuaremos formando analfabetos, que são mais fáceis de controlar do que gente instruída.
Análise fria dos números!
Terminadas as eleições 2010 posso começar a colocar no blog as análises e os resultados, que venho preparando há algum tempo. Isso foi possível pois algumas coisas foram bastante previsíveis, outras nem tanto. A maioria não apresentou nenhuma novidadade.
Vou começar pela análise dos números, puros e simples. Na campanha presidencial, a realização do segundo turno não era esperada, pelo menos para os institutos de pesquisa. É claro que houve uma resposta clara do eleitorado que não aceita o modelo de gestão do PSDB, representado por Serra e tampouco aceita o modelo do PT, representado por Dilma. Assim, Marina recebeu quase 20 milhões de votos e ajudou indiretamente Serra a ir para o segundo turno. Nesse pleito, deu o esperado: margem de aproximadamente 12% a mais para a candidata do PT à presidência, sendo assim eleita.
O governo fazer o seu sucessor não é nenhuma novidade no Brasil, assim como não seria se não o fizesse. O que me intriga e me leva ao questionamento é: na última pesquisa Ibope sobre o governo Lula, 83% responderam bom ou ótimo; Dilma, no entanto, teve 56% dos votos válidos. Isso significa que 27% daqueles que acham Lula bom ou ótimo não acham Dilma boa o suficiente? É uma boa questão.
Outra constatação a se fazer é que a abstenção foi ridiculamente grande. Em um país em que há quase 136 milhões de eleitores, quase 2,5 milhões votaram em branco, quase 5 milhões anularam seu voto e quase 30 milhões simplesmente não votaram. Somados, são mais de 36 milhões de eleitores que não acreditam em nenhum dos candidatos ou que não acham que votar para presidente seja mais importante do que curtir um feriado prolongado. Para comparação, Serra obteve cerca de 43 milhões de votos, pouco mais de 7 milhões de votos a mais. E a abstenção não foi tão diferente assim do primeiro turno, quando tivemos cerca de 101 milhões de votos válidos, enquanto no segundo turno o número foi de cerca de 99 milhões. Nem colocar a culpa no feriado podemos.
Para os governos estaduais, o que hoje é a oposição (PSDB e DEM) saiu vitoriosa por administrar 10 dos estados mais importantes economicamente o país e com mais de 52% do eleitorado. O PT ficou com 5 estados, o PMDB com mais 5 e o PSB foi o partido mais fortalecido, tendo sido base de apoio do governo, ficou com 6 estados. Mas quando comparada a uma análise do Congresso e do Senado, a oposição perdeu espaço, tendo sua importância bastante reduzida. Isso significa que o governo eleito terá maioria no Senado e Câmara dos Deputados para passar todas as suas propostas, uma maioria absoluta como nem mesmo Lula teve em seus dois mandatos.
No mais, a grande novidade foi a eleição de uma mulher para o cargo máximo do país, algo inédito na história do Brasil. Mas a realidade não deixou de ser a mesma para as candidatas no Brasil: pouco espaço, obrigatório por lei (30% dos candidatos de todos os partidos tem de ser mulheres) e pouca projeção. Basta contar o número de candidatas a governos estaduais e ver os resultados: 25 governadores eleitos contra 2 governadoras. Para o Senado, a mesma coisa: dos 54 eleitos, 8 mulheres e 46 homens. A mesma lógica se segue para os cargos de deputadas. Mas creio que esse seja um quadro a ser mudado, afinal a qualificação feminina tem avançado muito nas últimas décadas para combater os baixos salários e o preconceito, enquanto a qualificação masculina está em queda. Por outro lado a eleição de uma mulher para a presidência da República pode interferir diretamente nesse caso, positivamente.
Depois da análise dos números virão os comentários. Mas cada coisa a seu tempo.