Mas a recíproca também foi verdadeira um dia. Quando ainda havia liberdade para que nós, eleitores, pudéssemos decidir em quem votar, dois grandes exemplos de democracia participativa foram dados, o primeiro em São Paulo e o último no Rio de Janeiro.
Em 1958, o jornalista Itaboraí Martins propôs a candidatura do rinoceronte Cacareco, emprestado do estado do Rio de Janeiro para a inauguração do Zoológico de São Paulo. Era uma forma de protestar contra o baixo nível dos candidatos a vereador em São Paulo. O resultado foi uma alta adesão popular à candidatura, gente fazendo companha e mais ou menos 100 mil votos. O primeiro rinoceronte eleito vereador em São Paulo teve mais votos do que qualquer partido que tenha disputado aquelas eleições e ficou em segundo lugar, perdendo para um candidato que recebeu pouco mais de 110 mil votos. Rinoceronte bom de papo, não?
Na mesma linha, o pessoal do Casseta e Planeta lançou o Macaco Tião como candidato não-oficial à Prefeitura do Rio de Janeiro em 1988. Da mesma forma que em São Paulo, a candidatura "pegou" e o candidato primata teve mais de 400 mil votos, ficando em terceiro lugar na disputa eleitoral. Vale lembrar que quando essas duas façanhas aconteceram, não existia a urna eletrônica, portanto ainda era possível escrever o nome do candidato em quem o eleitor queria votar. Democrático esse sistema. Agora nem brincadeiras podemos fazer, a não ser que tenhamos idéias originais com números para mandar mensagens subliminares para os políticos...51 pode ser uma boa idéia (desde que a pessoa não vá dirigir um carro ou o país depois), 69 (creio que não necessita explicações mais detalhadas), 13 (número de azar em muitos países e culturas, principalmente no Brasil), 66 (o número do coisa-ruim) e por aí vai.
O problema não está em um jornalista ou um grupo de humoristas lançar a candidatura de algum animal caricato. Nos casos citados acima, o máximo que os políticos de cada época conseguiram dizer foi que não iriam se pronunciar. Afinal, dizer o que de um rinoceronte eleito vereador e um macaco com mais de 400 mil votos? O problema hoje é que os políticos resolveram brincar de humoristas e começaram a lançar eles mesmos os seus candidatos caricatos. Na minha opinião, todos os candidatos à presidência no Brasil não têm o apelo eleitoral que deveriam para se tornarem presidente desse circo. Mas pelo menos a Marina Silva tem uma história de vida interessante e o José Serra faz as suas cagadas por conta própria. O partideco dos trombadinhas, por falta de opção, lançou a candidatura da sua caricatura, mistura de macaco Tião e pinóquio, para tentar quebrar o tabu de nunca termos tido uma mulher eleita presidente do Brasil. Tudo bem que se o Lula apontasse para um barbeador descartável e o impusesse como candidato para seu partideco, ele seria aceito. E as pessoas, por mais incrível que pareça, votariam nele por representar aquilo que o povo brasileiro faz como eleitor (e o Pelé já dizia!): esse povo NÃO SABE VOTAR! Espero que ainda haja sã consciência suficiente no país para que o povo não se deixe levar novamente por esses humoristas, hoje disfarçados de partido político. Até porque nem o rinoceronte Cacareco nem o macaco Tião poderiam tomar posse, já o barbeador descartável do pt...